terça-feira, 16 de setembro de 2008

Polícia Militar e Polícia Civil: as vítimas

Logo após sairmos de forma, no final do expediente nesta quinta-feira, o colega Emmanoel Almeida me aborda: “Danillo, você viu o confronto entre a Polícia Civil e a PM de São Paulo?”. “Não… como foi isso?”. “Foi numa manifestação da Polícia Civil, próxima ao Palácio do Governador… aí o Choque acabou atuando e entrou em confronto com os policiais civis”. “Vou ver agora isso…”. Fui ao alojamento, depois ao rancho e meus colegas da APM-BA não conversavam outra coisa, me perguntando o que estava acontecendo, se eu tinha assistido na tevê, ou lido na Internet. O fato é que policiais civis paulistas entraram em confronto (veja vídeo) na tarde desta quinta com frações de tropa da PMESP, que faziam uma barreira de proteção ao Palácio dos Bandeirantes, onde se encontrava o Governador José Serra, instalado em seu Gabinete.

Confronto entre policiais civis e policiais militares paulistasPoliciais militares entram em confronto com policiais civis em São Paulo – Foto: Clayton de Souza/AE
Os policiais civis paulistas encontram-se em greve há mais de um mês, e faziam uma manifestação para pressionar o Governo do Estado a acatar suas reivindicações de aumento salarial. Por um lado, o Governador afirma que só haverá diálogo quando a greve acabar, por outro, o Sindicato dos Investigadores de Polícia de São Paulo, afirma que o Governador não quer ouvir os policiais, e que o evento desta quinta se deu pela falta de diálogo promovida pelo Governador.
À Polícia Militar não se exige outra postura que não a adotada, conforme escreveu o Cathalá:
“A atuação da PM é legal e legítima, diante da necessidade de se garantir a ordem e a segurança da população, das autoridades constituídas e do patrimônio.”
Os policiais civis também atuam legal e legitimamente quando reivindicam melhorias salariais – carência por que passam também os policiais militares, mas que não podem se manifestar mediante greves. O problema começa quando alguns policiais, imbuídos de condutas incendiárias e predatórias, resolvem deteriorar o patrimônio público, restringir o direito alheio (dezenas de pessoas ficaram feridas) ou cometer qualquer outro tipo de ilícito para justificar a “luta” por uma causa louvável. Mas o problema não termina aí, ou melhor, certamente este é o menor problema detectado…
O Governador José Serra afirmou, de acordo com o Estadão, que a manifestação dos policiais civis tem cunho eleitoreiro, atribuindo a partidos politicamente opostos ao do Governo a responsabilidade da manifestação. Disse que “isso foi claramente articulado, instrumentalizado, com essa perspectiva político-eleitoral”. Ou seja, o ambiente de caos está ligado a disputas políticas, trazendo-se logo à tona o pleito eleitoral que ocorrerá no próximo dia 26 de outubro. Fala-se até mesmo em participação de não-policiais no confronto.
Para as polícias e a Segurança Pública o cenário esboçado nesta quinta é o pior possível: a imprensa, em suas manchetes, já se dedicou em tratar o confronto como uma briga institucional, fazendo parecer que o Comandante Geral da PMESP e o Delegado Chefe da PCESP estavam comandando tropas para degladiarem-se entre si, tal qual num filme de estória medieval. A sabida rivalidade existente entre as forças policiais acentuam-se, gerando problemas pessoais quiçá insanáveis, e trazendo a imagem da segurança pública como um caos em que nem mesmo as instituições responsáveis por sua promoção “se entendem”. Espero que isso não gere bravatas por parte de policiais militares ou civis, criando mais indisposição do que já se gerou, procurando, de modo maniqueísta, um “errado” entre as duas corporações.
É lamentável que polícias que, principalmente em suas carências, mais se parecem do que são diferentes, sejam submetidas às (in)conseqüências do que parece ser mera disputa por poder, e sejam expostas de tal modo. As polícias, como instituições públicas, foram vitimadas.


Autor: - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escreva aqui seu comentário: